br />
A Deusa Brighid, por Pedro Guardião
Gostaria de esclarecer inicialmente que na mitologia celta, não existem deuses lunares ou solares, o que existe é deidades protetoras de certas artes. Os deuses celtas são uma raça divina, uma série de indivíduos divinos e portadores de variadas capacidades e conhecimentos, mas que se comportam
como os mortais e vivem junto com eles. Podemos encontrar grandes arquétipos à nos encorajar e alguns destes personagens são míticos, reis, druidas e heróis. Brighid, que significa "luminosa" é uma Deusa tríplice do fogo da inspiração, da ferraria, da poesia, da cura e da adivinhação. Isto é, as funções que lhe atribuem são triplas, correspondentes às três classes da sociedade indo-europeia:
- Deusa da inspiração e da poesia - Classe Sacerdotal.
- Protetora dos reis e dos guerreiros - Classe Guerreira
- Deusa das técnicas - Classe de artesãos, pastores e agricultores.
A lenda diz que ela nasceu com uma chama que saía do alto de sua cabeça, ligando-a com o universo.
Pesquisando fontes mitológicas remotas, encontramos Brighid como sendo filha de Dagda, o Bom Deus, pertencendo assim, aos Tuatha De Danann. Há lendas que alegam ser ela a esposa de Tuireann, com quem teve três filhos (Brian, Iuchar e Iucharba), que posteriormente matam Cían, o pai de Lugh. Já outra lenda, nos diz que Brighid tinha como marido Bres, o malfadado líder dos Tuatha De Danann. Dessa união nasce Rúadan, o qual morre em combate na Segunda Batalha de Moytura. Ao encontrá-lo sem vida, lamenta sua morte em uma tradição que viria a ser conhecida como "keening) (irlandês-caoineach), e que ainda hoje é preservada nas áreas rurais da Irlanda. os "keenings' eram lamentos emitidos por mulheres face ao falecimento de um membro da família ou da comunidade. Se constituíam em choros pungentes, quase bestiais, descritos por observadores como o som de "um grande número de demônios infernais".
A Nova Cristã e Antiga Pagã, Brighid, fundiram-se na figura de Santa Brígida no ano de 450. Em algumas histórias, foi o próprio São Patrício que a batizou e ela foi elevada à condição da figura galesa de Maria, sendo muitas vezes considerada como a parteira de Maria ou até como a ama do Menino Jesus. Aqui reconhecemos a deusa como protetora do parto. E, Brighid como santa, possui até biografia, que é de autoria de Cogitosus. Segundo ele, ela teria nascido em 452, no vilarejo de Faughart (próximo a Dundalk, Co. Lough), ao romper da aurora, hora de máxima importância para a filosofia celta. Era filha do nobre Dubhtach, chfe da Província de Leinster, e Broicsech, uma escrava. Em uma das versões da lenda, conta-se que, ao nascer, a casa em que estava ficou totalmente envolta por um fogo mágico, que assustou à todos que presenciaram à cena. Entretanto, ninguém queimou-se. Vários textos afirmam que tal fogo surgiu do centro da cabeça da criança, talvez para identificá-la como uma santa portadora de um poder criador.
Brigida foi educada por um druida e desde muito cedo manifestou o dom da profecia. Mas certo dia ela adoece gravemente e, o druida consegue salvá-la alimentando-a com o leite de uma vaca branca de orelhas vermelhas.
Os cristãos, gerando uma estranha contradição, afirmam que apesar de muito bela, Brigida permanece virgem. Contam, que para não casar, ela vasou seu próprio olho, tornando-se desinteressante para seus pretendentes.
Cogitosus nos esclarece, que no ano de 490, ela funda um convento na localidade de Kildare, local de perigrinação dos seguidores da religião celta pré-cristã.
Neste convento havia uma chama sagrada que devia sempre arder. Dezenove sacerdotisas-freiras guardavam a sua pira sagrada, alimentando o fogo. Conta-se que, no vigésimo dia de cada mês, ela aparece e vigia o fogo pessoalmente. Aos homens não eram permitida a entrada. Segundo as lendas, aqueles que tentassem se aproximar da fogueira eram acometidos de estranhos surtos de loucura e podiam até perder a vida.
Além de estar diretamente ligada ao elemento fogo, associa-se também a água e à cura. Muitas fontes da Irlanda são a ela dedicadas. A absorção deste elemento pela fé cristã, só comprova a sobrevivência de Brighid, na forma de deusa e não tão somente como santa.
Suas vacas produziam um lago de leite e proporcionavam alimentos inesgotáveis. Mas ela punia com muito rigor quem as roubasse, geralmente através de afogamento ou escaldamento. Através da magia, Brigida multiplicava anualmente a sua produção de manteiga. Ela também estava ligada à produção e consumo da cerveja. Reza a lenda que, com uma só medida de malte, Brígida era capaz de produzir cerveja a todos os que a pedissem. Um milagre associado à Cristo, aqui vemos adaptado à realidade celta. A "Vita Brigitae" afirma que a Santa Brigida morreu em 1 de fevereiro de 525, dia de celebração da Deusa Brighid.
DIA DE BRIGHID - "IMBOLC"
BRIGID também foi vista como uma deusa ligada ao ciclo anual. Ela presidia o começo da primavera, que, no ciclo dos antigos festivais do fogo, começava na véspera de primeiro de fevereiro, Imbolc, ou o Dia de Brigid.
A palavra Imbolc significa literalmente "dentro do ventre" (da Mãe). A semente que foi plantada no Solstício de Inverno está se desenvolvendo. Esta festa é chamada de "Dia de Brigid" em honra a Deusa irlandesa Brigid.
Suas festas eram repletas de fogos sagrados, simbolizando o fogo do nascimento e da cura, o fogo da força e o fogo da inspiração poética. Brigid é a noiva sagrada, e seu templo é o santuário do fogo divino, o qual representa o fogo do sol. Seguindo a tradição celta, deixe o fogo de sua lareira queimar completamente na véspera do dia de Brigid. Na manhã seguinte, prepare uma fogueira com cuidado especial. Pegue nove (ou sete) pequenos galhos, tradicionalmente de tipos diferentes de árvores e os acenda. Então, prepare a fogueira com os galhos acesos, enquanto decama três vezes:
Brigid, Brigid, Brigid, a chama mais brilhante!
Brigid, Brigid, Brigid, nome sagrado!
Um outro costume do dia de Brigid é plantar uma árvore frutífera. A Igreja incorporou este o dia de Brigid como sendo a Festa da Purificação da Virgem Maria. No paganismo esta é a época em que a Grande Mãe volta a ser novamente a Jovem Deusa Solteira. Uma lenda escocesa, relaciona Brighid com Caileach. Esta última, era também conhecida como a Carline ou Mag-Moullach e era o aspecto da velha deusa no ciclo anual. Estava ligada às trevas e ao frio do inverno e assumia a direção no ciclo das estações em Samhaim, a véspera do primeiro de novembro. Ela portava o bastão negro do inverno e castigava a terra com frias forças contrativas que ressecavam a vegetação. Com o fim do inverno, ela passava o bastão do poder para Brighid, em cujas mãos ele se tornava um bastão branco que estimulava a germinação das sementes plantadas na terra negra. As forças expansivas da natureza começavam então a se manifestar. Por vezes, essas duas deusas eram retratadas em batalha pelo controle das forças da natureza. Dizia-se até que Cailleach aprisionava Brighid sob as montanhas no inverno. Mas o melhor modo de reconhecê-las é vê-las e considerá-las como duas facetas de uma deusa tríplice das estações: a Velha Cailleach do Inverno, a Donzela Brighid da Primavera e a Mãe-deusa do viço do Verão e da frutificação do Outono.
No Festival de Imbolc é costume, no final da tarde de véspera, se colocar velas (laranja), em todas as janelas da casa e deixá-las acesas até o amanhecer. Também deve anteceder às festividades, um ritual de purificação e limpeza da casa. A celebração também envolvia a feitura de uma Boneca Noiva com as últimas gavelas de milho do ano anterior. Podemos conceber aqui a deusa Brigid com atributos da deusa do milho. Por meio do ciclo dos Festivais do Fogo (Samhain, Imbolc, Beltane e Lammas), os antigos povos celtas celebravam as diferentes energias da roda do ano. Isso era vivido especialmente como o poder do fogo manifestando-se em diferentes níveis.
Brigid chega em nossas vidas portando a chama da inspiração. Você está sem energia? Falta-lhe motivação? Está tão perdido que não sabe que rumo tomar? Você sonha com algo, mas não se sente com coragem de realizá-lo? Esta é a hora e a vez de alimentar sua totalidade e interioridade com a centelha energética da Deusa Brigid. Ela nos diz que uma vida sem o calor de sua chama de inspiração é totalmente insípida. Abra seu coração e permita que a inspiração seja o alimento de sua alma, para que você possa se tornar mais segura(o) e energética.
Fonte: Rosane Volpatto
Nenhum comentário:
Postar um comentário